quarta-feira, 11 de maio de 2011

Alfa-Teta: crie-sonhe

A instalação Alfa/Teta adentra no mundo dos sonhos, onde o inconsciente se manifesta de forma subjetiva, podendo revelar desejos, lembranças, como também medos e angústias. A concepção dessa instalação está estreitamente relacionada a fragmentos de memórias. Os sonhos entram aqui como o canal de expressão dessas memórias, combinadas com elementos fantasiosos, próprios do ato de sonhar. Assim, todos os elementos que compõem o espaço são fragmentos de sonhos, que remontam aos tempos de criança e persistem na memória ou nos próprios sonhos até os dias atuais, o que faz questionar o inocente sentido à que a palavra "sonho" comumente remete.

Apropriamo-nos de termos usados nos estudos sobre o sono, apenas como um mote aos fragmentos de memórias a serem ressignificados. Assim, o título refere-se ao estado Alfa que, além de ser a etapa inicial do sono, ainda indica grande fluxo mental, sendo o estágio onde a mente se concentra para a criatividade. O estado Teta é o estágio seguinte, do sono mais profundo, momento em que sonhamos.

O Coletivo Ponto de Fuga busca, assim, criar um espaço onírico, onde alguns dos sonhos das artistas se manifestam poeticamente, criando uma experiência multissensorial e psicoafetiva. Numa ação conjunta, com fragmentos de sonhos de cada uma de nós, foi-se construindo a proposta de instalação, profundamente marcada pela presença de objetos domésticos e cotidianos: travesseiros, casas, mesa, balanço, baú. No entanto, esses elementos sofrem interferências, em relação à sua dimensão, escala e função.

Como num sonho, a cor branca predomina no ambiente. Travesseiros, avessos ao descanso e ao sono, transformam-se em suportes de elementos de sonhos e memórias impressos, bordados, colados, desenhados com sutis interferências. Uma mesa imprópria à refeição, que se torna abrigo de tempestade e orações. O balanço, inalcançável, traz as marcas do tempo em sua ferrugem, projetando sua sombra na parede como lembrança a um passado distante. A casa, pequena demais para ser habitada, transforma-se em uma grande habitação de outras tantas casas, que habitam a memória das artistas. E, por fim, um baú, como que esquecido num canto. Dele escapam sons familiares e ao mesmo tempo estranhos aos nossos ouvidos: a canção de ninar murmurada pela voz feminina, o barulho da chuva e trovoadas, atravessado por risadas nervosas e uma profusão de insetos. A reza fervorosa, o badalo do sino, o vento.

A partir dessa proposta de instalação, o sonho é apresentado não como aquilo que almejamos, mas como ato de sonhar, canal de expressão que torna possível a ressignificação de memórias, ilusões e da própria realidade. Representar e compartilhar os sonhos é um exercício instigante, que permite soltar as amarras da lógica e ativar a percepção.

Bons sonhos!

Ponto de Fuga – Coletivo em Arte

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